segunda-feira, 31 de agosto de 2009

"Acho que hoje "caí de moda".
Meus dotes andam em baixa!
Me sinto paralela
Nem conto com o mundo,
pq não pertenço mais a ele.
Não tenho mais cenas,
Estou à parte.
Mortalmente esquecida dentro da vitrine da vida.


Do roteiro,
mudou quase nada...
Caminham todos a passos de formiga,
nem eles sabem pra onde. Seguem
regras & mitos.
Abatem-se por muito pouco,
muito menos do que as "vacas de presépio".


Não fazem mais canções,
Mal sabem escrever seus nomes.
Confundem pintos & bucetas
com paixões.


Vivem vagos & ocos,
tristes loucos alienados.
Nada é são neles...


Não conseguem me tirar daqui.
Nem as drogas;
Nem o álcool;
Nem a droga do cigarro!
Nem meu pobre coração.


O mundo vem se repetindo...
Se repartindo.

Aquela velha tosse contínua?
Continua.
Embora silenciando aos poucos.
As crises é que pioraram,
& as dores na alma também."
" Permaneci sentada na beira da calçada olhando os pingos cair nas poças de água compridas & chatas formando ondinas bonitas & mágicas. Ele estava em pé ao meu lado, sóbrio, cigarro aceso nos dedos amarelados pelos anos e boca seca de tanto tagarelar, impaciente falando sem parar da previsão do tempo, das últimas notícias, do salário que anda mal... Eu ouvia calada e gostava do jeito simplório que ele usava pra gesticular sem parar enquanto cuspia palavras e gotículas de saliva grossa que pareciam embalar a chuva com seu tom rouco-aveludado. Minha cabeça cheia de caraminholas & planos benditos para quem sabe uns dois séculos daqui... Eu acho que ele podia prever que tudo aquilo me satisfazia - ilhados num posto de gasolina de tons amarelo-queimado - se resolvesse sentir um pouco, além de despejar palavras bonitas & chatas para passar o tempo que eu nunca quis que passasse. A chuva acalmava & persistia gradativamente conforme eu queria, enquanto ele continuava a falar sem parar como um papagaio treinado sobre assim & assado... eu continuava a dar trela pro acaso.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

" Eu ainda podia ouvir
as castanholas & o som caliente do violão

8 graus vazios ...
Da noite só restaram
as garrafas & a cera das velas .
A chama dançante da última delas
me observava & fingia num compasso absurdo .

Decidi dormir."
"Sinto medo nas ruas estranhas e vazias, mesmo naquelas velhas que conheço cada pedaço de paralelepípido puído formando desenhos tristes com suas árvores sozinhas remoendo pensamentos absurdos, embalando o vento de chuva chegando que eu deixo bater na minha cara de gente sem rumo, enquanto lembro da tua boca dizendo que não, dizendo sempre "talvez, mas acho que não...pq isso & aquilo & aquel'outro &..." eu escuto um barulho esquisito mais alto que o vento e o sopro das árvores numa melodia pitoresca que me faz sentir o cheiro de três anos atrás quando eu não te conhecia & não sabia da tua arte ou dos teus encantos & não era louca pela tua boca cuidadosamente desenhada & vermelha e nem conhecia o teu toque ou sonhava as noites inteiras tomada de cólera degenerativa, permaneci no canto da rua sem movimento e olhei a hora num súbito impulso de lucidez pús-me a andar de vagar pelo meio da rua escura ao lado de cães latindo & gatos miando sem parar, com insetos & morcegos & bichos feios do mato, juntos comigo, uma legião de seres muito mais vivos que eu, quis sentar com eles e contar-lhes tudo em mil detalhes no tempo apenas de acender um cigarro do maço de Hollywood vermelho amassado com o penúltimo palito da caixa de fósforo & sereno, mas continuei andando com a esperança na goela de encontrar algum velho boteco aberto pra buscar consolo num gole de trago bem forte, tilintam copos no meio da noite diretamente da rua estreita à esquerda & vou atrás dos copos quebrados que levam à uma casa azul-antiga de madeira gasta pelo tempo que me serve uma bela garagem-bar, bem pequena com quatro mesas de madeira & cadeiras de palha encardida em frente ao balcão cheio de imagens de santos padroeiros de sabe-se lá onde, que me espreitam com o brilho nos olhos de papel alumínio usado enquanto o velho magro e esguio de barba mal-feita & trapinhos sujos salta de trás do balcão atencioso me pedindo " Oq seria?", peço " Uma dose de conhaque barato sem gelo!" que viro num gole enquanto observo os dois bêbados bem-vestidos na ponta do balcão falando num tom melancólico do casamento de 16 anos, do emprego frustrado, das dívidas interplanetares por culpa de quem & dos bons pecados de tempos que não voltam mais."